18/11/2008

Palavras salteadas… à minha moda!(4)

A de… Alma (do latim Anima – “sopro”)

É quase um lugar comum dizer-se que vivemos num mundo cada vez mais materialista. Por isso, e embora não tendo a certeza de que estamos assim tão dependentes dos bens materiais, escolhi para a crónica desta semana a palavra ALMA.
Admitindo que os nossos dias são marcados pelo materialismo, de quem é a culpa?
Dos perversos e instigadores do mal (almas danadas, almas de cântaro, almas negras)?
Dos que prejudicam o futuro por um bem incerto, ou seja, que vendem a alma ao diabo?
Nesta sociedade dita materialista, provavelmente já não haverá lugar para as almas do outro mundo nem para as almas penadas…
Já os que se entregam de corpo e alma ao trabalho para aumentar a sua capacidade de consumo são muito apreciados… Será caso para perguntar: “De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro se perder a alma?(Blaise Pascal). E se é verdade que “cDura é a luta contra o desejo, que compra o que quer à custa da alma.” (Heráclito), para os que, citando Albert Camus, se justificam dizendo que “Já é vender a alma não saber contentá-la.”, só há uma resposta: “Os bens da Terra apenas servem para escavar a alma e aumentar-lhe o vazio.” (François Chateaubriand)
Mas nem tudo deixou de ser o que era. Nos tempos que correm com uma sociedade globalizada, com sms, internet, chats, etc, não é que, em certas coisas, o segredo continua a ser alma do negócio?
Quando Eugène Delacroix defende: “Nada de regras para as grandes almas; elas são apenas para as pessoas que só têm o talento que se adquire.”, até parece que o mundo tem uma fronteira clara entre os bons e os maus. Não é bem assim, considerando que “As maiores almas são tanto capazes dos maiores vícios como das maiores virtudes.” (René Descartes)

A concluir, não tenho dúvidas de que “A carne é cinza, a alma é chama." (Victor Hugo) e que, apesar de vivermos num mundo em a imagem impera, “O horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado.” (William Shakespeare)
Mas como professor de Português, a minha preferida só podia ser esta:
Um romance é como um arco de violino, a caixa que produz os sons é a alma do leitor.

Uma semana para todos… sobretudo com muita imaginação, pois “A imaginação é a visão da alma.” (Joseph Joubert).
Prof. António Pereira

P.s.: E já agora seja feliz, visto que “A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada.” (Jean Jacques Rousseau) e transforme o sopro que é a sua alma num vendaval de desejo, seguindo a receita proposta por Gustave Flaubert: “A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo.

10/11/2008

Palavras salteadas… à minha moda!(3)

V de… Vermelho

O vermelho tem uma origem curiosa: vem do latim vermillus (“vermezinho”). Este verme é a cochonilha, insecto parasita de árvores frutíferas do qual se extrai um corante vermelho intenso feito com corpos secos de cochonilhas. Para produzir apenas 450 gramas deste corante são necessários cerca de 70 000 insectos.Biliões destes animais são criados todos os anos e utilizados na fabricação deste corante usado em biscoitos com sabor a morango, gelados de frutas vermelhas, leites de soja com sabor a morango, roupas, etc. O pigmento também é usado em produtos cosméticos (champôs e batons, por exemplo).
Esta cor tem, na maior parte dos casos, conotações negativas.
Quando as coisas não vão bem na economia, diz-se que está no vermelho, o que deixa alguns investidores à beira de um ataque de nervos ou mesmo vermelhos… de raiva!
No código da estrada, onde está o perigo? No vermelho!
Na escola, quais são as piores faltas? As que são marcadas a vermelho!
Qual a cor da luz que assinalava a existência de um lupanar (bordel)? Vermelha!
E que Capuchinho quis o lobo mau comer? O amarelo? O verde? O azul? Não, desses capuchinhos não reza a história… Ele queria mesmo era fincar o dente no Capuchinho… Vermelho!
E o Diabo é de que cor? Vermelha! O próprio corpo eclesiástico, no séc. XVI, associava o vermelho ao inferno e a uma ampla gama de pecados, como a volúpia e a ira. Ao chegar a terras brasileiras, os portugueses não demoraram a associar os nativos ao demónio ao vê-los com os seus corpos nus pintados de urucum (tinta corante vermelha feita a partir de sementes).
O vermelho é a cor da paixão e do sentimento. Simboliza o amor, o desejo, mas também o orgulho, a violência, a agressividade ou o poder. Também é a cor do planeta Marte, do coração no dia dos namorados e do Pai Natal.
Os portugueses deram o nome de Brasil ao Brasil por ali crescerem naturalmente árvores de pau-brasil, de onde se extraía um líquido vermelho para tingir tecidos. A procura deste corante avermelhado foi tal que levou à forte valorização do pau-brasil no século XVI e ao consequente desmatamento da Floresta Atlântica.
A dificuldade de extrair os pigmentos para tingir roupas na Europa fez com que os mantos dos reis europeus e as vestes de papas e bispos fossem desta cor, expressando a sua superioridade temporal, espiritual e, em ambos os casos, financeira.
No Oriente, a cor vermelha sempre foi, de um modo geral, ligada a aspectos positivos. Rubras eram as roupas para celebrações de paz e boa sorte para os chineses, como acontece até hoje nas festividades do ano novo, em que o vermelho é sinónimo de felicidade. Já para os indianos, simbolizava pureza espiritual.
No Japão, as mulheres usam, na sua maioria, vestes vermelhas que representam fidelidade, sinceridade e felicidade. Os recrutas usam cintos vermelhos para simbolizar a fidelidade à pátria. De acordo com escolas xintoístas, é uma cor de harmonia e de expansão. Quando se comemora um aniversário ou sucesso num exame, colore-se o arroz de vermelho.O panorama simbólico do vermelho ganhou novos contornos no mundo ocidental a partir da Revolução Francesa. "Le rouge" era uma das cores da tríade representativa do movimento revolucionário - símbolo da fraternidade, da união pelo sangue do povo francês. Desta forma, o que antes representava o estabelecimento de laços aristocráticos passou a ser um dos estandartes da democracia e da igualdade de condições. Da herança de ruptura (com as estruturas) e união (daqueles que não participavam no poder) de 1789, o comunismo organizado adoptou também a cor a que ainda hoje está vinculado: o vermelho.
Concluindo, poderíamos dizer que o vermelho, embora sendo o veículo ideal para expressar a alegria entusiasta e comunicativa, é uma mistura de sentidos polivalentes. Uma boa síntese parece ser conseguida pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira quando nos diz que o vermelho significa o amor e o sacrifício.
Para mim, o vermelho é amor, devoção, esperança (e nunca o verde!), sofrimento, muito sofrimento, e algumas alegrias (escassas, diga-se…). Porquê? É simples: o clube do meu coração é o Benfica.

P.s.: Sabia que há um horóscopo de cores em função da data em que se nasceu? Se o(a) leitor(a) faz anos entre 25 de Junho e 4 de Julho, a sua cor é… o vermelho! De acordo com este horóscopo cromático, eis as suas características: “Tem uma maneira de ser gira e afável. É alegre e despreocupado(a). Às vezes gosta de implicar, mas está sempre apaixonado(a) e... gosta de ser amado(a). É simpático(a) com as pessoas e gosta dessa maneira de ser. Gosta de pessoas com quem consegue falar facilmente e sente-se bem na sua companhia.”
Para ter o horóscopo completo, vá a este endereço: http://loucuraerisosemjuizo.planetaclix.pt/Cores.html
Uma curiosidade final: objectos de cor vermelha têm a propriedade de criar a impressão de estarem mais perto do que realmente estão.
Fontes:
vários sítios da internet (basta lançar uma busca com a expressão “significado das cores” e o Dictionnaire des Symboles, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

Uma boa semana, sobretudo com vitórias do… Benfica! lol
Prof. António Pereira

03/11/2008

Palavras salteadas... à minha moda! (2)

L de… Liberdade

Esta é uma palavra especial que nos toca, mais ou menos profundamente, a todos. Por um lado, são os múltiplos sentidos que o termo pode assumir para cada um; por outro, a sua inegável musicalidade, jogando com as vogais mais doces da língua portuguesa: o i e o a.
Invariavelmente, sempre que nos sentimos oprimidos, a liberdade sai do seu cantinho, invade-nos a alma, habita-nos a boca, engatilha-se e fica pronta a disparar contra a(s) tirania(s).
Os poetas, seus amantes incondicionais, inspiram-se nela e ganham asas de condor. E, nas suas palavras, a liberdade parece não ter fim, risca céus sem limites e voa sem censuras...
Mas nem sempre é assim... Se os mais novos “põem o pé em ramo verde”, lá vêm os mais velhos com a sentença inexorável: “É o que dá a liberdade a mais! No meu tempo não era assim. Valha-nos Deus, que isto está cada vez pior!” Noutros momentos, a limitação chega com algo do tipo “A tua liberdade termina onde começa a minha!”.
Já Lenine entende a liberdade como algo que deve ser racionado:
"A liberdade é uma coisa tão preciosa que devia ser racionada." Considerando o percurso histórico deste líder soviético, tenho algumas reservas em relação ao conceito que apresenta...
Como não gosto de limitações, mesmo quando tenho de as respeitar, identifico-me com outras máximas:
"A liberdade não tem qualquer valor se não inclui a liberdade de errar." (Gandhi)
"A liberdade está em se ser dono da própria vida." (Platão)
"É mais difícil preservar a liberdade do que obtê-la." (John Caldwell Calhoun)
"O conformismo é o carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento." (John Fitzgerald Kennedy)
"Isto é a liberdade: sentir o que o seu coração deseja, independente da opinião dos outros." (Paulo Coelho)
E, a concluir, a minha preferida:
“Ai que prazer
Não cumprir um dever(...)”. (Fernando Pessoa)
Poema completo em: http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v049.txt

Uma boa semana, sobretudo com muita liberdade!
Prof. António Pereira