05/02/2013

VER e ESCREVER


Memórias antigas chegam até nós para nos lembrarem que o Mundo, nos seus primórdios, não passava de um lodaçal. Para os lados de Belém (Portugal, não a natal do rei David ou de Jesus Cristo) onde o rio vai beijando a terra, este lodaçal era tão profano que parecia afogar-se no mar, ilha flutuante de pouco préstimo, nem sequer para os mitos contados da criação!
Como do futuro ainda não tinham chegado memórias de quaisquer Avatar, o lodaçal para ali ficou, pantanoso. Mas o sítio era bom, lá isso era e, algum dia, havia de ter préstimo!
Num outro tempo, anterior à homenagem que Torre havia de ser, um príncipe e outros génios humanos, ambiciosos e visionários, lunáticos, sonharam com o que estava para lá da linha do horizonte, o infinito invisível a olhos só de olhar.
E nem céus com nevoeiro ou mares desconhecidos e por monstros habitados, demoveram vontades, curiosidades ou teimosias!
E então fez-se lei e ordem, éditos, inventaram-se "invenções" de muito préstimo, vieram escravos, ciganos e demais corporações.
Naus e caravelas, espaços e estradas marítimas se fizeram, em tempos de sonho que passaram a ser o eterno Agora na Saga portuguesa - ‘Giesta’ dos Descobrimentos (ou Achamentos?). Mas o homem não é só feito de sonhos e memórias passadas, lembrou-se que havia de preservá-las para que se tornassem eternamente presentes e revividas em símbolos de contar (Lusíadas) ou de agradecer (Torre de S. Vicente de Belém). E um agradecimento foi erguido para relembrar a todos os que futuramente para ela (Torre) olhassem, que os tempos do sonho não residem unicamente num passado longínquo, mas também num eterno agora.
Que o digam estes jovens, encostados à fantasia de poderem sentir em cada batimento do coração, a emoção dos que foram e voltaram e dos que ainda por lá ficaram e por lá estão!

Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes