03/04/2013

VER e ESCREVER


Era uma vez uma estória que continua a ser, em que uma menina soube que Deus descansou ao sétimo dia da criação do mundo! Mesmo sem entender muito de Deus, o Não-humano, a estória e respetiva explicação estava aceite para se maravilhar com o que tinha ficado do trabalho dos seis dias anteriores. Na impossibilidade de repetição, o mistério ganha mais consistência quando a perfeição entra pelos olhos dentro e chega, de mansinho, ao coração.
A menina, todas as meninas e meninos, vão pensando na capacidade de imitação para que a inteligência cumpra funções inteligentes e a humanização se exceda em inventar, construir, ‘criar’ sem descanso, numa fração de tempo que ainda, e sempre, será o dia do recostar divino.
Aí está o paradigma da generosidade. Nesta estória, a menina foi pensando que, quem sabe fazer paraísos (olhemos o céu e as nuvens que nele se passeiam e não caem… chegam ou partem com gotinhas para refrescar e lavar o mundo que nenhum guarda chuva tapa na totalidade…), sabe também a superlativa abnegação e a importância de dar a oportunidade ao outro, espelho de nós mesmos. Oh suprema e inimaginável contradição!!! Afinal será o Homem apenas semelhante a Deus – Criador, ou será também o espelho que Deus escolheu para se Re - Ver e contemplar-Se a Si e à Sua obra? Olhemos a ponte a unir duas margens, vejamos as janelas iluminadas por uma luz inventada ou descoberta. Deus e o Homem, o Outro para o outro, para que a diferença mantenha a Identidade de cada um. A menina, muitos outros que sabem a estória, continuam a pensar que talvez Deus tenha decidido descansar e assim permaneça para deixar que o Homem – Criatura possa ser também criador e a beleza não desapareça. 

Foto: Osvaldo Castanheira
Texto: Maria dos Anjos Fernandes